O processo de utilização da madeira na indústria cervejeira é muito delicado dentro de uma cervejaria moderna. Com esta técnica invariavelmente o cervejeiro introduz no processo microorganismos indesejáveis a produção de cerveja tradicional, já que a cerveja dentro do barril de madeira acaba exposta a eles. Além disso, a madeira é uma barreira não muito eficiente para evitar a entrada de oxigênio, e com isso deve-se levar em conta o processo de oxidação. Como se não bastasse, a temperatura do ambiente em que esta armazenado e a lupulagem da cerveja também influencia no crescimento microbiológico do meio e consequentemente no produto final. Superar estas dificuldades só vale a pena por que o resultado de uma cerveja que passa por madeira é normalmente bastante diferenciado e surpreendente!
Estilos de cerveja conhecidos, como por exemplo, Barley Wine, Weizenbock, Imperial Stout e Indian Pale, na maioria das vezes com alto teor alcoólico, entre de 7% a 12% por volume, adquirem com primor as características de madeira utilizada.
A cerveja que passa por madeira deve apresentar como característica predominante os aromas e sabores do estilo base, com notas da própria madeira ou, se o barril foi utilizado anteriormente por alguma bebida alcoólica, notas desta bebida, mas sempre sem predominar. A cerveja pode ser envasada diretamente do barril para a garrafa, com refermentação ou não, ou ainda misturando-a com cerveja jovem para amenizar os efeitos da madeira. O período de maturação varia de 3 meses a 5 anos.
Outro caminho é utilizar um estilo que tenha como pré-requisito a fermentação e/ou a maturação em barris de madeira, como é o caso das belgas Lambic, Oud Bruin, e Flanders. Não se faz estes estilos sem a longa fermentação e maturação nos barris de madeira, por volta de 3 a 5 anos, sem adicionar fermento, ou seja utiliza-se a própria microflora da cervejaria e dos barris, ambiente que favorece a ação dos microorganismos Saccharomyces, Brettanomyces, Pediococcus e Lactobacillus, mais comuns na produção cervejeira.
Os aromas e sabores podem vir da transformação da lignina presente na madeira em vanilina com o passar dos meses, e por isso que é comum ao degustador perceber notas de baunilha, coco queimado, café, e claro, madeira. Por ser porosa a madeira abriga muitos microorganismos, que vivem nela naturalmente, contribuindo para dar a cerveja toques de acidez, rusticidade, sabores de couro, mofo, estábulo, sendo que estes últimos, apesar de soarem estranhos, podem ser muito benéficos para cerveja. Outro componente importante é a oxidação, muitas vezes reconhecida pelo gosto de papelão que ela confere a cerveja comum. Porém, no caso das maturadas em madeiras, a oxidação se transforma em notas de cerejas, ameixas, frutas vermelhas, banana passa, etc.
Agora imagine toda esta complexidade somada aos ingredientes, malte, lúpulo e levedura. Fantástico!
Pois é, pena que todo o estudo que eu já fiz e continuo fazendo sobre produção de cervejas em barris de madeiras não possa ser colocado em prática, pois não pode, simplesmente é esta a resposta.
O que pode? A cerveja fabricada com arroz, milho, açúcar, antioxidantes, antiespumantes, corantes, enzimas, conservadores de espumas e um tempo recorde de produção de 5 dias, sem gosto, sem cor, sem aroma, mas estupidamente gelada. Eu não quero fazer isso.
Ah, cerveja com frutas, condimentos, outras ervas, tudo isso também não pode, na verdade fazer cerveja não pode.
Já que eu sou obrigado a assistir 50 minutos de horário político OBRIGATÓRIO, qual a proposta dos candidatos para as microcervejarias que querem ter em sua gama de produtos mais de 30 estilos de cervejas, aumentando o emprego, gerando turismo e notícia boa para a sua região e seu país?