quinta-feira, 21 de julho de 2011

Vienna, Marzen e Oktoberfest.

Quando lemos um guia de estilos de cervejas, devemos levar em consideração que ele tenta colocar no papel o que um grupo de especialistas sentiram ao beber uma seleção de cervejas e detectaram características de um determinado estilo de cerveja. Pois é, uma árdua tarefa, é claro que as vezes a coisa sai errada, um caso que comento aqui é do agrupamento dos 3 estilos Vienna, Marzen e Oktoberfest em uma única categoria, pior ainda, referindo-se aos dois últimos como um único estilo.

Quem já se aventurou ao paraíso cervejeiro chamado Bavária sabe que isso não é o que acontece na realidade.

Apesar do estilo Vienna ter nascido de forma paralela com ao Marzen e este por sua vez ter semelhanças com a cerveja de 150 anos atrás da Oktoberfest, o mundo mudou, os estilos mudam com o tempo, com o avanço da tecnologia, com a cultura.

Atualmente temos 3 estilos distintos, a única coisa parecida que vemos é o tipo de fermentação de ambas, todas Lagers.

A Vienna que no passado foi sinônimo de qualidade e ganhou muita fama, chegou no sul dos EUA e no México com os imigrantes, acabou caindo no esquecimento e dificilmente achamos uma cerveja deste estilo fiel as origens, são cervejas marrons a âmbar, final seco e lupulagem presente mas não excessiva.

Já a Marzen, eram fabricadas no mês de março pra serem consumidas no período de verão, pois  só podia fazer cerveja nos mêses de inverno, por isso, ela era uma cerveja um pouco mais alcoólica, presença marcante de malte, lúpulo em segundo plano, cor marrom. Até hoje encontramos estas características facilmente ao beber uma Marzen, a Bamberg Rauchbier, tem como estilo base justamente a Marzen.



A  Oktoberfest, foi a cerveja feita para celebrar o casamento do Principe Ludwig e a Therese de Saxe-Hildburghausen, foi por causa deles que surgiu a grande festa que hoje conhecemos como Oktoberfest e que profissionalmente sou obrigado a visitá-la. A exatos 201 anos atrás a cerveja tinha tonalidades marrom, mas com o tempo ela foi clareando, tem a cor dourada a âmbar, uma forte base de malte e o lúpulo é detectável mas não é a estrela da festa.

Produzi pela primeira vez a Oktoberfest na semana passada, ainda ta fermentando, será vendida a partir da segunda semana de setembro, minha vontade é vender o tanque todo em chope, pra que todos possam apreciar o frescor e a complexidade deste estilo, comendo Pretzel e quem sabe cantando:

Ein Prosit, ein Prosit
Der Gemütlichkeit
Ein Prosit, ein Prosit
Der Gemütlichkeit.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Exemplo a ser seguido.



Todos sabem da minha opinião sobre quando alguém diz que existe uma Escola Cervejeira Americana, não concordo com isso, não existe. Mas, então devemos ignorar o que acontece nos EUA, no que diz respeito a cerveja e cultura cervejeira?
Não, de jeito nenhum. Se no mundo todo a cerveja artesanal cresce, devemos a isso aos americanos que desde os anos 70 vem trabalhando na divulgação da boa cerveja, os pilares são: produtos excelentes aliados à uma forma diferente de marketing, voltado a educação, apresentação e conscientização do consumidor.
O cenário cervejeiro americano no final dos anos 70 era muito parecido com o nosso atualmente, grandes cervejarias dominavam o mercado com produtos sem aroma, sem sabor, barato, mas alguns pequenos produtores começaram a fazer cervejas com personalidade, neste começo, as inspirações eram das escolas inglesa e alemã, mas eles tinham dificuldade em colocá-las no mercado foi então que eles tomaram a atitude de falar ao consumidor o que a cerveja deles tinham de bom, quem assistiu a palestra do Pete na Argentina viu ele contando esta batalha inicial, nos EUA temos grandes especialistas e estudiosos de cerveja, livros traduzidos e publicados, escolas, organizações, associações, revistas, programas de televisão, sempre voltado a facilitar a educação do consumidor e do produtor, preciso citar uma pessoa, pra mim o gênio da cerveja americana Randy Mosher, tudo o que ele diz é ensinamento.
Depois que aprenderam fazer bem o arroz com feijão eles começaram a ousar, barris de carvalho, fermentação espontânea, frutas, etc. Mas vejamos as cervejarias e os cervejeiros que sobreviveram dos anos 80 e 90 até hoje, todos eles conhecem profundamente as escolas inglesa, alemã e belga, não lendo os guias de estilos, mas indo visitar o local de origem dos estilos, vendo como esta sendo feito hoje, comparando com o passado, conversando com historiadores, cervejeiros locais, ou seja, imergindo na cultura cervejeira destes países, daí com uma técnica apurada eles conseguem dar alma ao produto, guias de estilos servem apenas pra alguma consulta rápida, é impossível fazer boa cerveja lendo um guia de estilo.
Atualmente o mercado de cerveja artesanal nos EUA é de 6%, aqui no Brasil é algo em torno de 0,2%, além disso, eles tem 2 grandes fornecedores de levedura, que fornecem fermento pra você fazer qualquer estilo de cerveja que você queira, eles tem várias opções de fornecimento de maltes, mas o grande diferencial fica com o lúpulo, eles plantam seus lúpulos, utilizando-os frescos em boa forma, conseguem comprar equipamentos de qualidade, barris de madeira de vários tipos, por tudo isso eles conseguiram construir um mercado forte que cresce todo ano, diferente do que acontece na Inglaterra e Alemanha, onde cai todo ano, já na Bélgica, primeiro país europeu influenciado pelos americanos, eles conseguiram reverter a situação e parou a queda de consumo de cerveja neste país.
Vejo uma forte tendência na Inglaterra e na Alemanha em inspirarem-se nos EUA e Bélgica no que diz respeito a apresentação e marketing das cervejas, tenho certeza que esta seria a melhor saída deles pra recuperarem seus consumidores.

Então, não é demérito para os americanos dizer que eles não são uma escola cervejeira, pois se no mundo todo mais pessoas estão bebendo cervejas produzidas por pequenos produtores isso nós devemos a eles que ressuscitaram este mercado de cervejas especiais.
Devemos nos libertar dos preconceitos, lutar pela inserção da boa cerveja no mercado, tentar buscar novos consumidores, estamos 30 anos atrasados na cerveja, nosso caminho é longo ainda, precisamos aprender a fazer cerveja, aprender a vende-la, pra no futuro quem sabe chegarmos a 1% do mercado nacional.