No dia 23 de abril de 1516 na cidade de Ingolstadt, o Duque
da Bavária, Wilhelm IV assinava a lei mais importante para a história da
cerveja, a Reinheitsgebot. Se
olharmos o texto inicial ele apenas determina o preço da cerveja e os
ingredientes que ela permitia fazer a cerveja: água, malte e lúpulo.
Com o passar dos
anos ela mudou e muito, basicamente porque o mundo da cerveja também mudou, mas
a alma dela foi mantida, apesar de varias versões sobre seu surgimento, uns
dizem que foi para cercar quem não pagava os impostos na época, outros dizem
que foi para proteger os padeiros, assim as cervejarias não usariam trigo e
centeio, mas independente do motivo, o mais importante foi o resultado, ela
melhorou a qualidade da cerveja na Alemanha.
Se compararmos com
outra potência cervejeira da época, a Inglaterra, onde esta lei não existiu,
notamos estilos se degradando, uso de drogas em cervejas, corantes, enzimas
para acelerar o processo e o declínio de um país cervejeiro, que nos ultimos 20 anos luta para retomar o caminho da boa cerveja.
Paralelo a isso,
outros pontos voltados à melhoria da qualidade da cerveja foram inseridos a
Reinheitsgebot, o cervejeiro teve que melhorar sua técnica, pois tinha poucos
ingredientes a trabalhar, os plantadores de lúpulos e as maltarias tiveram que
estudar para trazer mais opções e diversidades nas matérias-primas, surgiram as
escolas para formar os mestres cervejeiros, pesquisas, ciência, engenharia.
Em outros países já
dominava a corrida para diminuição de custos sem limites, usando adjuntos,
aceleradores de processo, conservantes, corantes, antioxidantes, até chegarmos
nas cervejas claras das grandes cervejarias, quase água.
Por que conto toda
esta história? Pois na década de 1980 começa um movimento nos EUA de
ressurgimento das microcervejarias, na década de 90 e 2000 a inclusão de outras
matérias primas, como frutas, ervas, vegetais, condimentos, etc., começaram a
tomar conta de várias cervejarias artesanais americanas, não com o intuito de
baratear a cerveja, mas sim pra somar nos aromas e sabores. Daí o que até então
a Reinheitsgebot só tinha contribuído positivamente com a história da cerveja,
ela começa a ser questionada, reclamações de que ela “engessava” o cervejeiro
surgiram.
Vejamos que esta
situação deu-se nos últimos 20 ou 30 anos, mas e agora? Olhando de fora da
Alemanha e conhecendo bem esta escola cervejeira eu acredito que já acontece um
movimento de mudança no país, acho que poucas inclusões ou alterações na lei
seriam necessárias, por exemplo, liberar o uso de frutas, já que antes da lei tínhamos
cervejas com frutas na Alemanha, acho que esta liberação deveria vir seguida de
uma porcentagem máxima permitida de fruta, outro ponto que eu mexeria seria
deixar claro que é permitido o uso de barris de madeira para fermentar ou
maturar a cerveja, já que isso gera algumas duvidas, outros ingredientes não
vejo a necessidade de ser incluso.
A ideia deste texto
foi dar minha opinião sobre a Reinheitsgebot e sugerindo algumas melhorias a
ela (sei que é muita pretensão minha sugerir melhorias a lei, mas...), mas é com muito orgulho que posso dizer que todas as cervejas da Bamberg
seguem a Reinheitsgebot, porque a Bamberg só faz cervejas da escola alemã, não me sinto “engessado”, só é mais difícil fazer
cerveja assim.
Ou seja, vamos celebrar a cerveja boa, sem preconceito, sem ditadura, temos mais de 150 estilos de cerveja no mundo todo e esta diversidade que faz a cerveja ser a bebida mais importante na história da humanidade.
Ou seja, vamos celebrar a cerveja boa, sem preconceito, sem ditadura, temos mais de 150 estilos de cerveja no mundo todo e esta diversidade que faz a cerveja ser a bebida mais importante na história da humanidade.
Viva a Reinheitsgebot,
o seu legado, sua história e tradição.